Dividido em três partes por temas, o livro inicia falando da finitude em "Escrevo uns versos, depois, rasgo", justamente por ser “um processo doloroso que me custou muitos rascunhos”, segundo a escritora. Na sequência, "Pérola Negra" faz uma homenagem ao poeta Luiz Melodia e as poéticas negras brasileiras. E finaliza com a série "Afro Disíacas", com uma pegada erótica no sentido mais amplo do Eros, a relação com a vida, com o bem viver das mulheres negras e as deusas que nos habitam. O processo de escrita durou dois anos, período que coincide com intensa produção acadêmica - dissertação de mestrado sobre a escrevivência de mulheres negras e projeto de doutorado sobre a escrevivência de mulheres indígenas – e luto, tanto pessoal quanto coletivo. Em 2023, com a perda da mãe, a escrita de Maiúscula amadureceu com o tema da morte. “A escrita é um processo de cura, pelo menos para mim, sempre foi. Eu escrevo diários desde a infância, e é nesses cadernos que a maioria dos meus poemas são construídos. Na pandemia senti muito a necessidade de expressar meus sentimentos e pontos de vista através da poesia”, explica. Em 20 anos de trajetória, Ana observa que, como escritora negra no Rio Grande do Sul, está vendo e vivendo uma lenta mudança. “Em 2017, fizemos o Segundo Encontro de Escritores Negros Gaúchos na Feira do Livro de Porto Alegre. Ali, eu estava junto ao Sopapo Poético reivindicando esse espaço das vozes negras na literatura gaúcha. E para nós, mulheres, a questão do gênero é muito excludente num cenário majoritariamente masculino.” “Não há tempo para a poesia, diz a poetisa. Pois este livro busca este tempo, cava, conquista. Palavras são ditas sem sombras, versos explodem em referências contemporâneas. Ana Dos Santos (assim, com D maiúsculo) vem provar que a literatura com história nasce por dentro da pele”, destaca a editora Clô Barcellos na contracapa do livro.