Luiz Airton Farias Bastos havia decidido não mais atender pelo nome de batismo – agora, era a Nega Lu. A despeito da condição de “preto, pobre e puto” (como se autodefinia, com amarga ironia), encontrou lugar na paisagem urbana. “Onde a gente ia, lá estava a Nega Lu”, sublinha Tânia Carvalho. “Uma lady de voz grave e barba malfeita”, na definição de Renato Del Campão, cantava em corais sinfônicos, aprendia balé clássico e marcava presença em vernissages, shows no Araújo Vianna e concertos no Salão de Atos, além de bater ponto na Esquina Maldita. “Comíamos sanduíche aberto e discutíamos Godard e Fellini à mesa do bar, enquanto a Nega Lu passava de peito estufado, bordando movimentos no espaço como um ser esvoaçante”, retrata a Magra Jane. E complementa: “Quando via que o ambiente estava ficando sério ou pesado, soltava uma piada com aquele vozeirão e já saía. Preferia dar seu show de loucuras na calçada”. O autor do livro, jornalista Paulo César Teixeira, o Foguinho, escreveu também Esquina Maldita, o gueto cult em Porto Alegre nas décadas de 1960 a 1970, e Darcy Alves – Vida nas Cordas do Violão, biografia do artista (falecido em 2015), ambos pela Libretos. O livro “Nega Lu...” foi financiado pelo concurso Fumproarte/SMC/Prefeitura de Porto Alegre.